Reprograme-se para aprender

Muitos métodos tradicionais de aprendizado desprezam a maneira como assimilamos e guardamos a informação. Você já aplicou meses em um curso e depois teve aquela sensação de que jogou seu tempo e dinheiro pela janela? Para evitar esse sentimento é importante que você se reprograme para aprender, prestar atenção, utilizando técnicas efetivas que muito mais que acelerar o aprendizado o tornam efetivo.

Melhor que aprender

Melhor que aprender alguma coisa é aprender a aprender! Se você conseguir reprogramar a sua forma de aprender isso será importante tanto para o aprendizado do inglês como para o aprendizado de qualquer outro idioma e até de qualquer outro conteúdo.

Reprogramação Direta

• Para começar, lembre-se dos primeiros itens da mochila que lhe ajudei a selecionar no capítulo anterior. É hora de usá-los. Tempo, Lugar e Criação do Bom Hábito de Estudar são muito importantes para a reprogramação do seu aprendizado. Lembre-se que colocar esses itens em prática é um processo de investimento pessoal. Eles estão na mochila porque devem ser usados a todo momento da caminhada. Se já se esqueceu deles, dê uma olhadinha lá! ?

• Respeite os limites do corpo:
  • Ciclos criativos – Muitos estudiosos dizem que desenvolver atividades criativas em ciclos de até 50 minutos, com pausas de 10 a 15 minutos entre os ciclos melhora as possibilidades de aprendizado. Não existe obviamente uma regra, mas indica-se fazer até três ciclos criativos, respeitando as pausas e incluindo nelas atividades diferentes como bater um papo, dar uma voltinha na quadra com o cachorro ou fazer um carinho no gato; tomar um copo d’água etc;
  • Mude a sua posição – ativa a circulação e relaxa a musculatura.

• Divirta-se enquanto aprende – Como o aprendizado pode ser divertido para você? Pense nisso e ajude a sua motivação fazendo o momento de aprendizado o mais divertido do seu dia. Trabalhe com textos curiosos ou que não tenham a ver com a sua realidade mas que abordem temas que lhe cativam a atenção; surpreenda a você mesmo com atividades e formas que ainda não experimentou; se gostar, inclua música no seu cardápio, respeitando as dicas do conceito de Bolha do Aprendizado (próximo capítulo);

• Seja amigo da sua memória:
  • Não sabote a sua memória, evitando hábitos e comportamentos que detonam o aprendizado (veja abaixo);
  • Ajude a sua memória, desenvolvendo comportamentos que promovem a retenção do conhecimento (veja item Hackeando a Memória).

Sabotando a memória

Assim como há formas de ajudar, há fatores que detonam a memória. É preciso evitar esses fatores ou condições para não atrapalhar o seu aprendizado:

• Falta do sono – há consenso que a memória de longo prazo é consolidada durante o sono. Privar o corpo do sono é sabotagem de alto impacto na memória;

• Falta de exercícios físicos – atividades como caminhadas, corridas e outros exercícios aeróbicos promovem aceleração da memória;

• Falta de água/hidratação – a falta de hidratação pode interferir na oxigenação do cérebro inclusive atrapalhando os processos de pensamento. Água é vida e também é memória;

• Estresse – é um dos fatores importantes nos distúrbios de memória. Fácil de escrever, mas difícil de fazer: evite situações estressantes.

Hackeando a memória

A ciência dá pistas importantes sobre os processos de retenção de informação. Esses processos dão conta de três estágios principais: codificação, armazenamento e recuperação. Na codificação as informações são assimiladas e combinadas. No armazenamento as informações codificadas passam para a memória de curto ou de longo prazos. Na recuperação as informações armazenadas na memória são recuperadas quando há necessidade. A capacidade de armazenamento na memória de curto prazo é escassa, enquanto se sabe que a memória de longo prazo é muito maior, acreditando-se ser potencialmente ilimitada.

Enquanto a codificação do tipo acústica privilegia a memória de curto prazo a memória de longo prazo é melhor ativada por conteúdos semânticos e episódicos. Em outras palavras, se você quiser memorizar para não esquecer, faça associações dos conteúdos com contextos que lhe deem significado (semântica) ou que estejam embutidos em enredos, com uma sequência histórica. A dica que vem da ciência é: dê significado aos conteúdos que você quer guardar e conte histórias para sua memória relativas a estes conteúdos.

A consolidação da memória de longo prazo acontece durante o sono. Pessoas com privação do sono ou com má qualidade de sono, potencialmente terão dificuldades de aprendizagem e memória.

Curvas de aprendizagem e esquecimento

O esquecimento faz parte do processo de limpeza e otimização da memória. O que não é usado não faz sentido guardar. Por isso, esquecer do que não é importante ou não usado corriqueiramente é muito normal. Até hoje tem-se utilizado o conceito de curva do esquecimento desenvolvido pelo psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus (1850-1909) que também formulou a curva da aprendizagem. De forma simplificada, a curva do esquecimento explica que um conteúdo é rapidamente esquecido a não ser que seja usado. Se o conteúdo for usado e relembrado, mais tempo se levará para esquecê-lo.

Sistemas de Repetição Espaçada

A partir da aplicação desta hipótese bem simples, desenvolveu-se a prática de repetir o conteúdo de tempos em tempos como forma de reativação da memória e promoção da retenção do conteúdo por períodos mais longos. É, por exemplo, o que os professores chamam de revisão de conteúdo. Estas técnicas são levadas ao máximo nos Sistemas de Repetição Espaçada (SRE), em inglês, Spaced Repetition Systems (SRS).

Os estudos de SRE levaram ao desenvolvimento de algoritmos de repetição com inúmeras possibilidades, testando melhorias de memorização. Alguns, por exemplo, alteram grandezas como o espaçamento entre as reapresentações de conteúdo de maneira que o conteúdo mais esquecido seja revisado com mais frequência até que não seja mais esquecido.

Softwares de repetição espaçada (SRE)

São softwares que se utilizam dos algoritmos de repetição baseados na curva de esquecimento e implementam uma série de funcionalidades ajustando-se a diversas necessidades e facilitando o processo de memorização e estudo. A grosso modo, estes softwares implementam a mesma técnica dos cartões de papel (flashcards) só que em sistemas digitais para serem usados nos desktops ou nos smartphones, inclusive com recursos de sincronização entre as diversas plataformas.

Eu, particularmente indico o Cram e o Anki, como já relacionei no capítulo anterior. Os dois são, na verdade, plataformas de SRE com muitas possibilidades para serem exploradas e auxiliar você a dar um upgrade na sua memória. Veja no Anexo I um tutorial completo que vai guiar você no uso do SRE Anki para o estudo do inglês.

Aplique os conceitos

Esses conceitos são simples mas muito poderosos! Coloque-os em prática e torne sua jornada de aprendizado do inglês muito mais efetiva:

• Separe tempo e crie um ambiente propício (eu sei que estou sendo repetitivo, mas é didático!);

• Reinvente o seu jeito de aprender criando o hábito de estudar. Lembre-se que em dois meses isso pode ser conseguido e você fará no automático, sem pensar (novamente esse assunto!);

• Não adianta decorar palavras fora de contexto;

• Conte histórias para a sua memória, enredos que dão significados às palavras;

• Conteúdos assimilados e codificados em histórias e com significado contextualizado têm grande potencial de passarem para a memória de longo prazo;

• Respeite o seu corpo, você é também um corpo humano (é óbvio, mas tem gente que esquece);

• Faça uso dos ciclos criativos, ativando o corpo e respeitando as pausas entre os ciclos (de aproximadamente 50 minutos);

• Divirta-se e surpreenda-se aprendendo, do contrário será muito difícil convencer a sua memória que aquele conteúdo deve ser armazenado;

• Encare o seu estudo como um privilégio e um lazer;

• Ajude a sua memória em vez de sabotá-la: durma, beba água, faça exercícios e não esquente tanto a cabeça;

Faça um upgrade de memória usando as técnicas de retenção, com auxílio de um sistema de repetição espaçada como o Cram e o Anki.